sábado, 19 de janeiro de 2013

Fes, a velha senhora

Por conta de uma chuva que durou um dia inteiro logo no primeiro dia, acabamos passando o dia todo no quarto do hotel. Nos hospedamos no Le Shehérazade, um riad do século 19, muito bonito, mas que podia ser mais bem cuidado. Não é dos mais baratos, mas fica próximo a medina. Ficamos lá graças as benditas cotas de lua de mel, presente de casamento!


Logo na nossa chegada, saindo da estação de trem, um guia turístico nos abordou, por conta de um sujeito do departamento de turismo que encontramos no trem

O sujeito disse que era imprescindível ter um guia na medina porque era muito perigoso se perder lá. De fato, a medina é um verdadeiro labirinto. Então, combinamos com o guia, o Rachid, que mais tarde passasse no hotel para irmos até a medina. Já que a chuva não permitia, o Rachid disse que passaria no hotel no dia seguinte, e disse para evitar ir até a medina naquele dia, pois era sexta (o dia santo dos muçulmanos) e muitos lugares estariam fechados, o que torna o lugar perigoso.

Quando olhamos o precinho salgado da comida do hotel, resolvemos arriscar ir até a medina assim mesmo. Chegamos sãos e salvos no portão azul, um dos principais da medina, e bem próximo havia diversos restaurantes e lojas, quase tudo aberto! Havia muito turista na rua também.


Logo avistamos alguns restaurantes e entramos em um chamado La Kasbah.
Eles tem um terraço bem bacana, dá pra ter uma boa vista da medina e os preços são bem acessíveis. Pedimos um menu com harira (sopa marroquina), cuscus e sobremesa por 70 Mad (~17 reais), e foi o almoço-janta. Pela quantidade de mochileiros, esse restaurante deve estar listado em algum guia. A gente foi pelo faro!


No dia seguinte, um pouco desconfiados, esperamos o Rachid e perguntamos o preço do tour, que deveria ser 120, o que ele confirmou. 

São muito poucas as vezes que contratamos guias, então a gente resolveu aproveitar. Ele nos levou até a Supra Tours para comprar nossas passagens de ônibus para Merzouga, e de quebra foi mostrando a cidade nova, construída pelos franceses. 
Paramos para tirar fotos do lado de fora da medina:






A medina Fes el Bali, também conhecida como medina velha, é a maior do Marrocos, e foi fundada em torno de 800.d.c, o que faz dela uma velha senhora.

Lá dentro, as artérias da velhota são formadas por nada menos que 9 mil ruelas, da menor a menor ainda, algumas escuras e fechadas, parece cenário de filme.

Esse aí é o Rachid, andando com a maior tranquilidade no meio do labirinto, e ainda cumprimentando e conversando com cada comerciante no caminho




Nossa primeira parada foi na famosa Tannerie de Fes. Olhando o nome até parece bonitinho, até você se dar conta que tannerie na verdade é um lugar onde se curte e colore o couro, vulgo curtume.
O cheiro é tão forte que eles distribuem galhinhos de hortelã pra disfarçar. A propósito, perdoem minha cara feia...






Foi então que percebemos a roubada de contratar um guia. Estávamos no meio de um centro de comércio, o que mais o cara ia nos levar para conhecer, senão lojas?

Começamos ali mesmo, na loja de couro, com um vendedor muito insistente, que queria me vender uma jaqueta por 700 reais. Foi um parto sair de lá, sem a jaqueta, claro. Acabei comprando uma baboucha (aquele chinelo de couro de camelo, bem tradicional e popular entre homens e mulheres de lá) a peso de ouro, pensando que tinha feito um bom negócio.

Depois veio a loja de tapetes, que ao menos era muito bonita, e eu ainda sentei com a Fatima aí pra aprender como se fazia um tapete. Claro que eu não aprendi coisa nenhuma, mas foi legal mesmo assim. E tinha uma vista ótima da medina.






No mais, foram algumas fotos e outra echarpe pra minha coleção





Pelo menos agora já sei usar uma echarpe a moda do deserto! rsrs

Paramos numa praça onde se fabricavam artigos de metal, desde tachos a lustres lindíssimos... uma pena ser mochileira e não conseguir carregar tanta coisa assim!






Lá no meio da medina fica o lugar mais importante em termos de cultura da medina. É a universidade mais antiga do mundo, chamada al-Qarawiyyin, que foi fundada por uma mulher (talvez esse fato seja até mais curioso num mundo tão masculino). Seu nome era Fatima al-Fihri, e foi apelidada de a mãe das crianças, tão bem quista que era. 

Além disso, ainda há uma medersa, hoje um museu, com uma bela amostra da arquitetura marroquina, mas que tem em todo lugar. Vale uma visitinha de médico se ainda não visitou nenhuma medersa no Marrocos.






Acabamos o tour num restaurante em algum lugar desconhecido da medina, que só o Rachid sabe onde é, que pertence a uma família, como muitos no Marrocos. Todos os membros da família trabalham lá. Mulheres na cozinha, pai no atendimento. Com direito a escolher a comida na própria cozinha, depois de experimentar todos os pratos do dia.

Finalmente o Rachid entendeu que éramos mochileiros, pois o restaurante era bem baratinho. Vendia espetinho na frente e os marroquinos comiam lá também.

No fim, o preço do tour ficou em 120 mesmo, mas o que o Rachid não tinha dito é que era por pessoa! E a gente conclui que guia é pra quem não sabe que se perder na medina é a maior atração de lá! rsrsrs

Rachid que nos desculpe, mas guia, só se for Rough Guide ou Lonely Planet.

Voltamos ao hotel para pegar as mochilas, a essa altura mais pesadinhas com  souvenirs, e pegamos um petit taxi (o branco) até a estação de trem. 



Fomos até lá simplesmente porque a Supra Tours, que é da mesma empresa das linhas trem, fica bem em frente a estação. Ainda faltava um tempão pra sair o ônibus a Merzouga, então deixamos as mochilas na loja da Supra Tours e fomos conhecer a cidade nova.

Na ville nouvelle de Fes também tem uma bela Boulevard cercada de palmeiras, onde as pessoas vão passear. Ou pegar seu caminho de volta pra casa.

Muitas mulheres circulam pelas boulevares, mas nunca vão aos cafés, como mencionamos no post sobre Casablanca. O que ainda permanece um mistério.











Uma grata surpresa antes de deixar Fes: eles bem que estão tentando alertar as pessoas sobre o mal que faz o cigarro, e nem é preciso aprender árabe pra entender:


Velha cidade, velhos hábitos. Tomara que um dia isso mude!

Achamos que íamos precisar de mais tempo para conhecer toda a cidade, mas no fim, um dia foi o suficiente para conhecer tudo. Muita gente faz um bate-volta até Meknes, uma cidade próxima que tem alguns atrativos turísticos, mas não foi nosso caso.

< Rabat, a capital (mais) francesa do Marrocos                Merzouga e o Sahara >

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